terça-feira, 26 de outubro de 2010

"Bazamos ou ficamos?"

Para além de titular uma bonita canção dos Mind da Gap, esta é porventura a maior dúvida entre os jovens licenciados portugueses.
Em momentos de crise como este – em que um licenciado tem um valor de mercado (muitas vezes), inferior ao de um qualquer imigrante ilegal – muitos de nós transformam-se imediatamente em ratazanas olímpicas. Como é bonito admirar os mergulhos graciosos enquanto Portugal afunda... Visualizem um qualquer conhecido vosso, que fugiu para o estrangeiro, a mergulhar de forma graciosa, dando bonitos saltos mortais com uma cauda comprida a acompanhar o movimento... Lindo!
Atentem caros leitores que não me refiro a estes indivíduos como ratazanas, de forma depreciativa. Eu próprio sou uma ratazana, só que sou uma ratazana cobarde... Complicado? Não, de todo! Tenho vontade de fugir, a minha cauda abana quando me falam em emprego em qualquer outro país (até para esse paraíso que é a Serra Leoa); fico com as patinhas a tremer quando oiço as palavras “INOV”, “internacionalização” e até a expressão “salário adequado à competência”... Só que quando me aproximo da borda, do barco que é Portugal, tenho ataques de vertigens e até me esqueço do bom nadador que sou... E assim, beneficiando de um emprego que me vai permitindo manter a cabeça à tona d’água, alimento a cobardia.
Para que esta dúvida deixe de o ser vou apostar em Portugal. Não que acredite muito no resultado (as hipóteses são ainda mais baixas do que no casino!), mas vou fazer a minha parte. Se todos fizermos por isso, não vamos mais ter de nos afastar das nossas ratazanas preferidas – e como dói a ausência de determinadas roedoras – nem termos nós (os que por cá vão ficando), de vestir uns Speedo ridículos e mergulhar...

1 comentário:

  1. Se tudo se resumisse a histórias de roedores, seria tudo mais fácil. O que acontece, infelizmente, é que só quem tem coragem para dar o primeiro salto é que percebe que afinal a história não é bem assim, o segredo é que quem salta como roedor acaba por se transformar naquilo que quiser, no primeiro instante de encontro com o mar.

    É normal que surjam dúvidas, que ponderes mil vezes se realmente vale a pena deixares tudo para trás: amigos, família, aquela história que ficou mal resolvida. Passam-te pela cabeça mil situações hipotéticas que tentas descobrir qual seria a reacção se estivesses longe, impotente, sem nada ao teu alcance, e garanto-te que todas as respostas que, instintivamente, vais encontrando estão erradas e a justificação é que a pessoa que tu és agora fica a borda do barco, projectada pela força do teu corpo ao mergulhar. Será que realmente vale a pena? Tornares-te uma pessoa nova, enfrentares inúmeras chatices que não tens perfil para resolver, contar o dinheiro e perceber que lavar a roupa em casa te dá acesso a mais umas noites, sentires-te sozinho quando estás doente porque toda a gente vai sair nessa noite, e tu passas a ser isso mesmo, alguém sozinho num país que não é o teu, longe daqueles que não hesitariam em fazer-te uma canja e ficar ao teu lado até adormeceres. Será que vale a pena?
    Claro que vale a pena, e isso não quer dizer que não queiras voltar ao barco, só quer dizer que queres olhar para o barco de outra maneira.
    Não digo que não é complicado ter que assumir esse mergulho, é complicado. Mas perdia toda a magia se assim não fosse.
    A verdade é que tudo aquilo que podemos esperar que um lugar nos ofereça, não se aproxima, nem de perto, daquilo que ele realmente nos vai fazer viver.
    A palavra amor ganha tantos novos sentidos, mil formas diferentes e a única coisa que isso te traz de mau, é tu perceberes que afinal podes amar tanta coisa de tantas maneiras, nunca mais vais deixar de ter saudades e vais desejar, constantemente, voltar a viver certos momentos.
    Não vale a pena pensar muito, fecha os olhos e mergulha, mergulha o mais fundo que conseguires, mergulha com estilo e vais ver que quando vieres ao de cima respirar o ar vai ser mais puro do que nunca.
    Sai da tua zona de conforto - e por muito que doa a ausência de certos roedores- vais perceber porque é que os príncipes se tornam reis lá fora e “fogem” da condição de sapo.

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