quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Vidas...

Numa das minhas muitas viagens pela Internet, dei por mim triste ao ver uma peça de sensibilização para o problema dos sem-abrigo. Fiquei triste porque nunca fiz nada para ajudar um. Fiquei triste porque percebi que estamos todos a um pequeno passo dessa condição. Não é preciso muito para o Mundo virar as costas a qualquer um de nós...
Este problema que de forma fria e insensível, tomamos como algo normal, como parte integrante da paisagem das cidades em que vivemos, é uma realidade para cada vez mais pessoas: algumas por pura e simples falta de sorte; algumas por se terem entregue a vícios; Algumas simplesmente por vontade própria, povoam as nossas ruas, transportando consigo histórias de vida inacreditáveis.
Quantas não foram as vezes em que passei na Estação de Santa Apolónia às três da manhã, em direcção ao Lux, e não parei sequer para olhar uma segunda vez para aqueles que fazem dos pórticos da estação a sua casa, de pedaços de cartão a sua cama, daquilo que eu considero lixo o seu maior tesouro... Como é possível não olhar para trás? Como é possível deixar o Mundo separar-nos tanto da bondade e de um simples “estender a mão” a um semelhante?
O pior é que estamos todos a um passo desta condição, mesmo que não tenhamos grande noção disso. Ainda que isto possa parecer uma exacerbação da realidade, pode bastar uma decisão infeliz ou um investimento falhado, para sermos postos de parte. Para sermos postos de parte por um modelo de sociedade elitista por nós criado e, por muitos, orgulhosamente mantido.
Como seria qualquer um dos que, como eu, tem uma boa vida a olhar o mundo pelo prisma de alguém que faz das ruas a sua casa e de estranhos os seus melhores amigos? Como seria estar tapado por uma caixa de cartão e com a cabeça deitada nas próprias mãos a verem jovens continuarem as suas vidas sem olharem uma segunda vez para trás?
E se o sem-abrigo fosse eu?
E se o sem-abrigo fosses tu?

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